sábado, 20 de outubro de 2018

Xeu te contar uma verdade inconveniente...
Sabe o que é mais complicado que assumir um novo relacionamento? Lidar com todo o pacote que vem junto com a nova experiência.
A realidade é que a partir do momento que você questiona os padrões da sociedade e ousa ir contra certas construções, a vida não fica mais fácil. Pode até ficar mais doce (e amarga), mas fácil não fica.
Explico.
Já pararam pra pensar que o seu relacionamento não é só seu, apesar dele dizer respeito apenas a você?
Não importa se você é reservado ou não, se vocês são o comercial de margarina ou o casal risca faca da novela das 8pm., sempre, e te afirmo com toda a convicção, sempre vão falar de você, e via de regra para o mal, porque a/o coleguinha só ama você enquanto você é menos feliz e realizada que ela/e.
Por falar em coleguinha, o que dizer dos "abraços amigos e tamos juntos" que duram apenas até quando você passa por algum perrengue? Ou então a galera que te exclui do face ou do whats porque você ousou ter a coragem de viver a própria vida, contrariando a existência de merda que esperavam de você? Vou além: o que comentar da amiga casada que dá em cima do seu ex na primeira oportunidade, falando que o casamento dela tá ruim, e coisa e tal (e depois fica inconformada com o novo relacionamento dele)? Ah, e a ex do atual, rasa como um pires, agindo como a criança que é, tentando manipular situações e pessoas pra ter alguma atenção pra ela no circo (e se isso não bastasse, o pai dela agindo ainda mais infantilmente)?
Cara, a vida é uma caixinha de surpresas, já diria Joseph Climber (se não assistiu esse vídeo ainda, assista! Recomendo).
A única verdade nisso tudo é que só você pode se fazer feliz.
Eu vivia uma vida de comercial de margarina (e isso é o máximo que vou expor sobre ela aqui) e não estava feliz com ela há algum tempo. Com exceção de pouquíssimas pessoas, o mundo acreditava que era isso, e tudo bem.
Depois de uma tentativa de suicídio eu entendi, finalmente, que não precisa ser assim. Vou falar que sair dos padrões que fomos ensinadas a viver desde sempre não é fácil. Romper com certas situações de abuso não é simples, nem mesmo agradável, menos ainda indolor. Escolher ruptura também implica em se quebrar toda para juntar os cacos depois. Como diria Rupi Kaur, em Outros Jeitos de Usar a Boca, "não quebro, eu estilhaço". Bem, estilhacei.
Depois da quebra não me restou nada a não ser juntar as peças e colar com amor-próprio.
O que esperam de nós é que sempre tentemos. Tentemos muito. Tentemos demais. Que tentemos tanto a ponto de não importar se morreremos ou se mataremos nosso espírito no processo. Porque somos bem mandadas, de berço, tentamos. Muitas vezes pra compensar as gerações anteriores e para tentar romper com as histórias que vieram antes de nós.
Adivinha só: não funciona. Não dá pra tentar para não decepcionar a família. Não adianta tentar pra manter o status. Não vale a pena tentar se for só pra existir, ao invés de viver. O que se ganha com isso é frustração e tristeza. De todos os lados.
Juro que tentei, tentei mesmo, ser eu mesma e continuar atendendo às expectativas dos que me rodeiam, mas minha sanidade mental e física são mais importantes do que o que pensam (ou falam, sempre pelas costas) de mim.
Nos últimos quatro anos tenho pensado e pesado muitas questões. Compreendo claramente que é impossível desvincular esses questionamentos do fato de me tornar alguém envolvida e atuante no movimento da humanização, respeito ao protagonismo feminino, problematização da sociedade machista e patriarcal que vivemos, entre uma boa parcela de coisas, ideias e vivências.
Contestar essa merda toda e bancar as minhas escolhas não está sendo fácil. Não foi fácil. Não será fácil.
Tenho vivido um intenso processo de luto interno nesses últimos anos. Aquele tipo de luto oculto pela morte da Lorena-mulher, a quem eu tentava enterrar dia após dia num túmulo de silêncio, submissão e falsa aceitação. Justificava, constantemente, com auto-afirmações de que "é desse jeito mesmo", "é só uma fase chata, vai passar", "credo, como você é ingrata, depois de tanto tempo...".
Sabe a parte mais engraçada de quando você prefere o suicídio a ter que viver tudo isso? É que se você tenta e volta, você recebe uma nova chance de mudar tudo. Obviamente essas chances podem aparecer em momentos menos extremos e você pode escolher mudar tudo de uma outra forma. A verdade é que eu desperdicei oportunidades assim em outros momentos e, desta vez, decidi que faria o que queria por mim, e por mais ninguém.
De uma forma muito intrigante a vida, por vezes, nos prega uma peça e nos impõe não só um, mas vários desafios de uma vez só.
Eis então que, no meio de um momento praticamente apocalíptico de término e separação, o destino também me traz alguém completamente improvável. Perdas e ganhos. Fins e começos.
Como bem disse uma amiga querida "o preço que pagamos pela liberdade e emancipação é bastante alto", e entendo muito bem isso. Não está sendo simples lidar com os julgamentos de pessoas que não fazem a menor ideia da minha vida e que só tinham um recorte micro do todo.
De "puta abandonadora de crianças que largou tudo pra viver um caso amoroso irresponsável" até a "louca irresponsável que influencia jovens inocentes e imaturos emocionalmente", vou sentindo o calor das fogueiras públicas, acesas por aqueles que adoram uma fofoca ou um barraco, e alimentadas pelos 'cidadãos exemplares de bem', com muitas certezas e vários títulos, que falam bonito, mas que não vivem o que falam.
A realidade é que a solidão e a indiferença tem me caído bem nesse momento. Tenho fingido distração e brinco de não perceber os olhares, as 'amizades' desfeitas, os sumiços repentinos, e os silêncios oportunos.
Talvez se meu ex-companheiro tivesse sido a pessoa a pedir a separação, tudo seria diferente, dos julgamentos à toda a carga sócio-cultural que vem atrelada ao divórcio, mas, para ser franca, percebi que sou forte o suficiente para bancar minha escolha e seguir o novo rumo que optei para mim ("...prefiro queimar o mapa, traçar de novo a estrada, ver cores nas cinzas, e a vida reinventar").
Analisando friamente toda a situação, talvez tenham sido muitos choques de uma vez para uma sociedade tão liberal de fachada, mas que no âmago insiste em abraçar os padrões tradicionais, execrando quem ousa agir fora da caixinha, e segregando quem é diferente ou 'difícil de lidar'.
Tenho muita consciência dos desafios que se colocam à minha frente. Vejo nitidamente a altura dos muros, erguidos com preconceito e hipocrisia, que me separam do resto do grupo. Ouço claramente as risadas das hienas histéricas e dos palhaços de circo, os lamentos dos moralistas, os gritos dos inconformados, os uivos dos angustiados. Nenhuma revolução se faz sem luta, não é mesmo? Acho que isso vale para revoluções pessoais, certo? Capaz.
Dia após dia vou me sentindo cada vez mais forte, mais inteira. Ainda tenho muitas ideias, e provavelmente falarei sobre elas mais pra frente, mas neste momento esta renovação me basta.
Vejo meu ex-companheiro feliz com uma outra pessoa e isso aquece meu coração, pois o vejo vivendo, efetivamente, um novo momento. Quão injusto seria, com nós dois, se tivéssemos continuado? Quão nocivo seria com nossos filhos se continuássemos fingindo, para todos e para nós mesmos? Que exemplo daríamos a eles?
Prefiro pensar no quão acertada essa decisão foi e em todo o bem que ela tem feito (para os que realmente importam).
Felicidade não tem preço, ela acaba vindo de brinde com a liberdade. Esta última, sim, tem um preço alto e difícil de se pagar.
Pensando no futuro, espero que essa geração que estamos criando seja melhor que a nossa. Às vezes fica difícil de acreditar quando vemos o que vemos em todas as mídias, mas realmente creio na mudança. Ser resistência num mundo de intolerância não é fácil.
Acabei tendo uma rede de apoio de mulheres muito maravilhosa. Poucas pessoas, mulheres, que me acolheram no momento mais crítico da minha vida. Que me olharam no olho e disseram para contar com elas. Que me acolheram. Que me contaram suas histórias, tão parecidas (ou iguais) à minha. Que me emprestaram roupa, me deram comida, me pentearam, me abraçaram, me amaram. Sem julgamentos. Apenas amor.
À todas vocês, obrigada. Be, Má, Jeh, Cami, Gio, Nick, Pati, Cris, Ana, So, a vocês e todas as outras mulheres maravilhosas que me acolheram, gratidão.
Se me perguntam hoje como estou respondo, sem hesitação, muito feliz. Como não estive em muito tempo. Não tenho casa, nem carro, um punhado de roupas, batalhando grana pra conseguir pagar um lugarzinho pra morar, mas, acima de tudo, feliz.
Coincidência? Destino? Karma? Escolha, eu diria. Escolhi "o que faz meu coração vibrar, apesar de todas as consequências".
Estou viva.
Sou minha.
E isso me basta.


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Descobri que não caibo, seja nas minhas roupas de ontem, seja nas expectativas das pessoas do presente.
Como uma peça errada, não encaixo nesse quebra-cabeça.
Sou o fio quebrado entre o interruptor e a luz. Não se vê, não se conserta. Troca-se.
Me vejo na garoa que molha as roupas, na lama que cobre os sapatos, no pó que encobre os móveis.
Quando, o quê, e se fui, não sei.
Ao perder o mapa que mostrava o caminho, me achei. Ao trilhar o caminho encontrado, me perdi.
À deriva vou.


É um misto de ansiedade e calma, o brilho que vejo nos seus olhos.
Minha alma inquieta suspira, ardendo. A ardência é boa e reverbera pelo resto do corpo.
Eu consigo sentir o calor que emana da sua pele. Seu braço toca o meu e sinto o arrepio gostoso que isso causa.
Nós rimos, e falamos, e divagamos.
Nossas bocas fogem, brincalhonas, enquanto nossos olhos se encontram, furtivos.
Sou o meu rosto no seu, tocando, sentindo. Sentidos.
Somos.


Eu, espírito encarcerado dentro deste naco decadente de carne
Neste momento sombrio vislumbro o pouco que posso
Contesto cada dia menos o que me resta
Um pássaro canta lá fora, ouço bem seu grito
Ruído sem sentido, parece chorar com o raiar do dia
Respiro o ar frio que entra pela fresta da janela embaçada por dentro
Ando, tal qual animal enjaulado, de um lado para o outro, sem rumo
Limites bem definidos por paredes brancas e móveis decadentes.
Antes tão forte, tão vívida, tão desperta
Dia após dia apenas sigo, vazia,
Ansiosa pelo nada, vida tão breve, sonhos caídos pelo chão.

Encurralada.


Poesia obsoleta

Como, perdida no tempo, eu poderia encontrar
Sabendo que o inevitável virou lembrança e me tortura.
Quem, além de você e eu nessa bagunça toda
Você, que me perdeu no tempo e espaço
É aquele que eu não imaginava e nem de longe desejava
Realmente, o supor queria me deixar tranqüila e me fez aflita
Posso, de certa forma, dizer que foi o não jeito e
Continuar me parece absurdo ou abstrato
Minha, a imagem só, refletida no espelho
Vida, que escorre pelos meus dedos e vai parar nos vãos inúteis da sua memória.
Apesar da dor que machuca todas as fibras do meu ser
E das lembranças concretas daquilo que nunca existiu
As mudanças que estão sendo imperadas na minha alma
Alteram o eixo das raízes entremeadas no meu coração
Arrependo-me apenas daquilo que não fiz
E que a fama do erro seja criada pelo erro feito
E que a imaginação deixe de ser fértil
E que seu cheiro e seu gosto não saiam mais de mim.
Você vai ser pra sempre a tortura que eu mais gosto de sofrer.
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Se a imagem só perde pro fato do sonho que mostra a verdade da imaginação, ganho o prêmio de roteirista dessa tragicomédia. A pauta do dia é, de maneira certa, aquilo que sempre fomos, mas que nunca teremos. Somos apenas desejo, trocando carícias eternas de pequenas promessas no tempo, com começo, meio e fim. Sem programa. Como sabendo quem você é realmente, posso continuar minha vida?
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If you can’t hold on, hold my hand, and I’ll hold it for the both of us.

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Finale

Why is perfection so overrated?
And the only request from them all
Is to be less than human
And more metallic, acid, catastrophic.
I see our love go down, dying
Destroyed by the past
The only memories you can’t surpass
Same memories that for me are long gone
Buried in a profound dark hole
And the last thing I need
Is a new tear to cry
Another love to be forgotten
Another cruel and raw lesson to be learned.
Let me feel you one more time
Consider me the honor of keeping it all to me
For no longer we’ll see
And before the goodbye
(The one and only we were both so scared of)
Allow me to have
Or finally give me,
As part of the saddest gift you’ve ever gave me
And ever will…
Save or kill my soul
With our last first kiss.

Setembro/09


Every passing minute is a new chance to turn it all around.

Why can't you just change it?

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Eu adoro ver filmes em que o par romântico fica junto no final. Não importa qual o estilo de filme, não importa quem são os personagens, nem quem são os atores, e nem mesmo me importa quem são os diretores. Eu simplesmente adoro quando eles ficam juntos no final.
Me dá uma falsa sensação de que, por um minuto, tudo está do jeito que deveria ser, e que todos estamos felizes... Pelo menos no fim desse filme.
O que me remete à cena que eu mais amo: o beijo dos amantes. Existe coisa mais gostosa que o beijo? Ok, até existe, mas deixa isso pra depois das 10, tá?
Sabe aquele momento que precede o beijo? Aqueles segundos em que o mundo simplesmente pára, que os olhares se encontram? Aquele momento em que você não consegue pensar em nada (ou então consegue pensar em tudo), e você sente que aquilo vai mudar sua vida para sempre (ou não)? Eu acredito que esse é o momento mais perfeito que existe.

Mataria por ter esse momento, over and over again...

18/04/07


Como dois animais selvagens, se atracam,
Um em busca do corpo do outro,
Sedentos por carne, desejo latente
Buscam devorar suas bocas
Mãos, pernas, peito, sexo.
Têm em si o segredo da vida.
Escondem e afloram
Borbotões de sentimentos
O cheiro, o gosto, o calor
Permanecem sempre,
Não morrem, não somem,
Não apagam.
Nascem ousados pensamentos
Florescem distintos,
Instintos,
O instinto de sobrevivência
Faz com que sejam um só.
Sabor de fruta madura, tortura,
Maçã mordida,
Pecado à vista,
Cometido tantas e tantas vezes no supor,
Sem dor, temor.
Sem opor. Realidade.
No ar flutua, perdida,
A sensação de vitória,
Missão cumprida,
Caçadora,
Sou presa
Nas tuas mãos, pouca resistência...
Surreal,
Tão real.
Lascívia, luxúria,
Gula, fome de pecado
Prazeres capitais...
Vem possuir-me,
Devora-me,
Vamos...
Como dois animais selvagens...
Selvagem.
Selva
Relva...
Névoa...
Enfim:
Gozo.

23/02/07


domingo, 5 de agosto de 2018

Eu sinto algo que não é meu.
Uma completa incapacidade, como se o mundo sempre fosse maior que minha Razão.
São muitos começos sem desfechos, todos histórias incompletas da minha vida.
Aqui tem a impotência diante do mundo, e muitos desejos enterrados sob camadas grossas de terra e desilusão.
Quanto mais tento ponderar, quanto mais encontro e entendo, menos me tenho.
Não me reconheço.
Dia após dia sou algo, e não sou eu.


Quando te perguntam como você está a resposta que vem sempre é a que todo mundo quer ouvir: bem.
A gente não responde por mal. A gente responde porque,  lá no fundo, sabe que a maior parte das pessoas não está preparada pra verdade. Então você finge. Fake until you make it.
Posso falar um pouquinho de um dia 'normal'?
Você sente o espírito quebrado. A mente confusa. Um aperto constante no peito. Uma necessidade contínua de se policiar pra não parecer por fora o chorume de dentro.
Aí você respira e finge.
Tenta estar entre as pessoas, mas não consegue estar entre elas. Tipo, você quer estar, mas não quer estar. Quando você está com as pessoas, você quer fugir pra longe delas. Você combina com as pessoas, mas desmarca em cima da hora porque o pensamento de estar com as pessoas vira uma agonia. Você se sente legal, mas se sente mal, quer e não quer, e você sai, mas só pensa em voltar. Às vezes você sai sem rumo, e fica só. Milhares de pessoas em volta e você está  só. Se sente só. A sua cama é tão atraente, que deitar e dormir anestesia um pouco.
Você sente claramente que não pertence. Não é por mal. Vai por mim.
Aí o tempo passa e você esquece. O tempo passa e você respira. O tempo passa e você fica bom em fingir.  O tempo passou e você não viu.
Isso é um dia. Ele também vai passar.


Eu finjo que não sei.
Ele finge que não sabe.
Assim seguimos fingindo,
Um ao outro,
Que tudo o que temos é que nada temos.


Xeu te contar uma verdade inconveniente... Sabe o que é mais complicado que assumir um novo relacionamento? Lidar com todo o pacote que ve...