Xeu te contar uma verdade inconveniente...
Sabe o que é mais complicado que assumir um novo relacionamento? Lidar com todo o pacote que vem junto com a nova experiência.
A realidade é que a partir do momento que você questiona os padrões da sociedade e ousa ir contra certas construções, a vida não fica mais fácil. Pode até ficar mais doce (e amarga), mas fácil não fica.
Explico.
Já pararam pra pensar que o seu relacionamento não é só seu, apesar dele dizer respeito apenas a você?
Não importa se você é reservado ou não, se vocês são o comercial de margarina ou o casal risca faca da novela das 8pm., sempre, e te afirmo com toda a convicção, sempre vão falar de você, e via de regra para o mal, porque a/o coleguinha só ama você enquanto você é menos feliz e realizada que ela/e.
Por falar em coleguinha, o que dizer dos "abraços amigos e tamos juntos" que duram apenas até quando você passa por algum perrengue? Ou então a galera que te exclui do face ou do whats porque você ousou ter a coragem de viver a própria vida, contrariando a existência de merda que esperavam de você? Vou além: o que comentar da amiga casada que dá em cima do seu ex na primeira oportunidade, falando que o casamento dela tá ruim, e coisa e tal (e depois fica inconformada com o novo relacionamento dele)? Ah, e a ex do atual, rasa como um pires, agindo como a criança que é, tentando manipular situações e pessoas pra ter alguma atenção pra ela no circo (e se isso não bastasse, o pai dela agindo ainda mais infantilmente)?
Cara, a vida é uma caixinha de surpresas, já diria Joseph Climber (se não assistiu esse vídeo ainda, assista! Recomendo).
A única verdade nisso tudo é que só você pode se fazer feliz.
Eu vivia uma vida de comercial de margarina (e isso é o máximo que vou expor sobre ela aqui) e não estava feliz com ela há algum tempo. Com exceção de pouquíssimas pessoas, o mundo acreditava que era isso, e tudo bem.
Depois de uma tentativa de suicídio eu entendi, finalmente, que não precisa ser assim. Vou falar que sair dos padrões que fomos ensinadas a viver desde sempre não é fácil. Romper com certas situações de abuso não é simples, nem mesmo agradável, menos ainda indolor. Escolher ruptura também implica em se quebrar toda para juntar os cacos depois. Como diria Rupi Kaur, em Outros Jeitos de Usar a Boca, "não quebro, eu estilhaço". Bem, estilhacei.
Depois da quebra não me restou nada a não ser juntar as peças e colar com amor-próprio.
O que esperam de nós é que sempre tentemos. Tentemos muito. Tentemos demais. Que tentemos tanto a ponto de não importar se morreremos ou se mataremos nosso espírito no processo. Porque somos bem mandadas, de berço, tentamos. Muitas vezes pra compensar as gerações anteriores e para tentar romper com as histórias que vieram antes de nós.
Adivinha só: não funciona. Não dá pra tentar para não decepcionar a família. Não adianta tentar pra manter o status. Não vale a pena tentar se for só pra existir, ao invés de viver. O que se ganha com isso é frustração e tristeza. De todos os lados.
Juro que tentei, tentei mesmo, ser eu mesma e continuar atendendo às expectativas dos que me rodeiam, mas minha sanidade mental e física são mais importantes do que o que pensam (ou falam, sempre pelas costas) de mim.
Nos últimos quatro anos tenho pensado e pesado muitas questões. Compreendo claramente que é impossível desvincular esses questionamentos do fato de me tornar alguém envolvida e atuante no movimento da humanização, respeito ao protagonismo feminino, problematização da sociedade machista e patriarcal que vivemos, entre uma boa parcela de coisas, ideias e vivências.
Contestar essa merda toda e bancar as minhas escolhas não está sendo fácil. Não foi fácil. Não será fácil.
Tenho vivido um intenso processo de luto interno nesses últimos anos. Aquele tipo de luto oculto pela morte da Lorena-mulher, a quem eu tentava enterrar dia após dia num túmulo de silêncio, submissão e falsa aceitação. Justificava, constantemente, com auto-afirmações de que "é desse jeito mesmo", "é só uma fase chata, vai passar", "credo, como você é ingrata, depois de tanto tempo...".
Sabe a parte mais engraçada de quando você prefere o suicídio a ter que viver tudo isso? É que se você tenta e volta, você recebe uma nova chance de mudar tudo. Obviamente essas chances podem aparecer em momentos menos extremos e você pode escolher mudar tudo de uma outra forma. A verdade é que eu desperdicei oportunidades assim em outros momentos e, desta vez, decidi que faria o que queria por mim, e por mais ninguém.
De uma forma muito intrigante a vida, por vezes, nos prega uma peça e nos impõe não só um, mas vários desafios de uma vez só.
Eis então que, no meio de um momento praticamente apocalíptico de término e separação, o destino também me traz alguém completamente improvável. Perdas e ganhos. Fins e começos.
Como bem disse uma amiga querida "o preço que pagamos pela liberdade e emancipação é bastante alto", e entendo muito bem isso. Não está sendo simples lidar com os julgamentos de pessoas que não fazem a menor ideia da minha vida e que só tinham um recorte micro do todo.
De "puta abandonadora de crianças que largou tudo pra viver um caso amoroso irresponsável" até a "louca irresponsável que influencia jovens inocentes e imaturos emocionalmente", vou sentindo o calor das fogueiras públicas, acesas por aqueles que adoram uma fofoca ou um barraco, e alimentadas pelos 'cidadãos exemplares de bem', com muitas certezas e vários títulos, que falam bonito, mas que não vivem o que falam.
A realidade é que a solidão e a indiferença tem me caído bem nesse momento. Tenho fingido distração e brinco de não perceber os olhares, as 'amizades' desfeitas, os sumiços repentinos, e os silêncios oportunos.
Talvez se meu ex-companheiro tivesse sido a pessoa a pedir a separação, tudo seria diferente, dos julgamentos à toda a carga sócio-cultural que vem atrelada ao divórcio, mas, para ser franca, percebi que sou forte o suficiente para bancar minha escolha e seguir o novo rumo que optei para mim ("...prefiro queimar o mapa, traçar de novo a estrada, ver cores nas cinzas, e a vida reinventar").
Analisando friamente toda a situação, talvez tenham sido muitos choques de uma vez para uma sociedade tão liberal de fachada, mas que no âmago insiste em abraçar os padrões tradicionais, execrando quem ousa agir fora da caixinha, e segregando quem é diferente ou 'difícil de lidar'.
Tenho muita consciência dos desafios que se colocam à minha frente. Vejo nitidamente a altura dos muros, erguidos com preconceito e hipocrisia, que me separam do resto do grupo. Ouço claramente as risadas das hienas histéricas e dos palhaços de circo, os lamentos dos moralistas, os gritos dos inconformados, os uivos dos angustiados. Nenhuma revolução se faz sem luta, não é mesmo? Acho que isso vale para revoluções pessoais, certo? Capaz.
Dia após dia vou me sentindo cada vez mais forte, mais inteira. Ainda tenho muitas ideias, e provavelmente falarei sobre elas mais pra frente, mas neste momento esta renovação me basta.
Vejo meu ex-companheiro feliz com uma outra pessoa e isso aquece meu coração, pois o vejo vivendo, efetivamente, um novo momento. Quão injusto seria, com nós dois, se tivéssemos continuado? Quão nocivo seria com nossos filhos se continuássemos fingindo, para todos e para nós mesmos? Que exemplo daríamos a eles?
Prefiro pensar no quão acertada essa decisão foi e em todo o bem que ela tem feito (para os que realmente importam).
Felicidade não tem preço, ela acaba vindo de brinde com a liberdade. Esta última, sim, tem um preço alto e difícil de se pagar.
Pensando no futuro, espero que essa geração que estamos criando seja melhor que a nossa. Às vezes fica difícil de acreditar quando vemos o que vemos em todas as mídias, mas realmente creio na mudança. Ser resistência num mundo de intolerância não é fácil.
Acabei tendo uma rede de apoio de mulheres muito maravilhosa. Poucas pessoas, mulheres, que me acolheram no momento mais crítico da minha vida. Que me olharam no olho e disseram para contar com elas. Que me acolheram. Que me contaram suas histórias, tão parecidas (ou iguais) à minha. Que me emprestaram roupa, me deram comida, me pentearam, me abraçaram, me amaram. Sem julgamentos. Apenas amor.
À todas vocês, obrigada. Be, Má, Jeh, Cami, Gio, Nick, Pati, Cris, Ana, So, a vocês e todas as outras mulheres maravilhosas que me acolheram, gratidão.
Se me perguntam hoje como estou respondo, sem hesitação, muito feliz. Como não estive em muito tempo. Não tenho casa, nem carro, um punhado de roupas, batalhando grana pra conseguir pagar um lugarzinho pra morar, mas, acima de tudo, feliz.
Coincidência? Destino? Karma? Escolha, eu diria. Escolhi "o que faz meu coração vibrar, apesar de todas as consequências".
Estou viva.
Sou minha.
E isso me basta.
Sabe o que é mais complicado que assumir um novo relacionamento? Lidar com todo o pacote que vem junto com a nova experiência.
A realidade é que a partir do momento que você questiona os padrões da sociedade e ousa ir contra certas construções, a vida não fica mais fácil. Pode até ficar mais doce (e amarga), mas fácil não fica.
Explico.
Já pararam pra pensar que o seu relacionamento não é só seu, apesar dele dizer respeito apenas a você?
Não importa se você é reservado ou não, se vocês são o comercial de margarina ou o casal risca faca da novela das 8pm., sempre, e te afirmo com toda a convicção, sempre vão falar de você, e via de regra para o mal, porque a/o coleguinha só ama você enquanto você é menos feliz e realizada que ela/e.
Por falar em coleguinha, o que dizer dos "abraços amigos e tamos juntos" que duram apenas até quando você passa por algum perrengue? Ou então a galera que te exclui do face ou do whats porque você ousou ter a coragem de viver a própria vida, contrariando a existência de merda que esperavam de você? Vou além: o que comentar da amiga casada que dá em cima do seu ex na primeira oportunidade, falando que o casamento dela tá ruim, e coisa e tal (e depois fica inconformada com o novo relacionamento dele)? Ah, e a ex do atual, rasa como um pires, agindo como a criança que é, tentando manipular situações e pessoas pra ter alguma atenção pra ela no circo (e se isso não bastasse, o pai dela agindo ainda mais infantilmente)?
Cara, a vida é uma caixinha de surpresas, já diria Joseph Climber (se não assistiu esse vídeo ainda, assista! Recomendo).
A única verdade nisso tudo é que só você pode se fazer feliz.
Eu vivia uma vida de comercial de margarina (e isso é o máximo que vou expor sobre ela aqui) e não estava feliz com ela há algum tempo. Com exceção de pouquíssimas pessoas, o mundo acreditava que era isso, e tudo bem.
Depois de uma tentativa de suicídio eu entendi, finalmente, que não precisa ser assim. Vou falar que sair dos padrões que fomos ensinadas a viver desde sempre não é fácil. Romper com certas situações de abuso não é simples, nem mesmo agradável, menos ainda indolor. Escolher ruptura também implica em se quebrar toda para juntar os cacos depois. Como diria Rupi Kaur, em Outros Jeitos de Usar a Boca, "não quebro, eu estilhaço". Bem, estilhacei.
Depois da quebra não me restou nada a não ser juntar as peças e colar com amor-próprio.
O que esperam de nós é que sempre tentemos. Tentemos muito. Tentemos demais. Que tentemos tanto a ponto de não importar se morreremos ou se mataremos nosso espírito no processo. Porque somos bem mandadas, de berço, tentamos. Muitas vezes pra compensar as gerações anteriores e para tentar romper com as histórias que vieram antes de nós.
Adivinha só: não funciona. Não dá pra tentar para não decepcionar a família. Não adianta tentar pra manter o status. Não vale a pena tentar se for só pra existir, ao invés de viver. O que se ganha com isso é frustração e tristeza. De todos os lados.
Juro que tentei, tentei mesmo, ser eu mesma e continuar atendendo às expectativas dos que me rodeiam, mas minha sanidade mental e física são mais importantes do que o que pensam (ou falam, sempre pelas costas) de mim.
Nos últimos quatro anos tenho pensado e pesado muitas questões. Compreendo claramente que é impossível desvincular esses questionamentos do fato de me tornar alguém envolvida e atuante no movimento da humanização, respeito ao protagonismo feminino, problematização da sociedade machista e patriarcal que vivemos, entre uma boa parcela de coisas, ideias e vivências.
Contestar essa merda toda e bancar as minhas escolhas não está sendo fácil. Não foi fácil. Não será fácil.
Tenho vivido um intenso processo de luto interno nesses últimos anos. Aquele tipo de luto oculto pela morte da Lorena-mulher, a quem eu tentava enterrar dia após dia num túmulo de silêncio, submissão e falsa aceitação. Justificava, constantemente, com auto-afirmações de que "é desse jeito mesmo", "é só uma fase chata, vai passar", "credo, como você é ingrata, depois de tanto tempo...".
Sabe a parte mais engraçada de quando você prefere o suicídio a ter que viver tudo isso? É que se você tenta e volta, você recebe uma nova chance de mudar tudo. Obviamente essas chances podem aparecer em momentos menos extremos e você pode escolher mudar tudo de uma outra forma. A verdade é que eu desperdicei oportunidades assim em outros momentos e, desta vez, decidi que faria o que queria por mim, e por mais ninguém.
De uma forma muito intrigante a vida, por vezes, nos prega uma peça e nos impõe não só um, mas vários desafios de uma vez só.
Eis então que, no meio de um momento praticamente apocalíptico de término e separação, o destino também me traz alguém completamente improvável. Perdas e ganhos. Fins e começos.
Como bem disse uma amiga querida "o preço que pagamos pela liberdade e emancipação é bastante alto", e entendo muito bem isso. Não está sendo simples lidar com os julgamentos de pessoas que não fazem a menor ideia da minha vida e que só tinham um recorte micro do todo.
De "puta abandonadora de crianças que largou tudo pra viver um caso amoroso irresponsável" até a "louca irresponsável que influencia jovens inocentes e imaturos emocionalmente", vou sentindo o calor das fogueiras públicas, acesas por aqueles que adoram uma fofoca ou um barraco, e alimentadas pelos 'cidadãos exemplares de bem', com muitas certezas e vários títulos, que falam bonito, mas que não vivem o que falam.
A realidade é que a solidão e a indiferença tem me caído bem nesse momento. Tenho fingido distração e brinco de não perceber os olhares, as 'amizades' desfeitas, os sumiços repentinos, e os silêncios oportunos.
Talvez se meu ex-companheiro tivesse sido a pessoa a pedir a separação, tudo seria diferente, dos julgamentos à toda a carga sócio-cultural que vem atrelada ao divórcio, mas, para ser franca, percebi que sou forte o suficiente para bancar minha escolha e seguir o novo rumo que optei para mim ("...prefiro queimar o mapa, traçar de novo a estrada, ver cores nas cinzas, e a vida reinventar").
Analisando friamente toda a situação, talvez tenham sido muitos choques de uma vez para uma sociedade tão liberal de fachada, mas que no âmago insiste em abraçar os padrões tradicionais, execrando quem ousa agir fora da caixinha, e segregando quem é diferente ou 'difícil de lidar'.
Tenho muita consciência dos desafios que se colocam à minha frente. Vejo nitidamente a altura dos muros, erguidos com preconceito e hipocrisia, que me separam do resto do grupo. Ouço claramente as risadas das hienas histéricas e dos palhaços de circo, os lamentos dos moralistas, os gritos dos inconformados, os uivos dos angustiados. Nenhuma revolução se faz sem luta, não é mesmo? Acho que isso vale para revoluções pessoais, certo? Capaz.
Dia após dia vou me sentindo cada vez mais forte, mais inteira. Ainda tenho muitas ideias, e provavelmente falarei sobre elas mais pra frente, mas neste momento esta renovação me basta.
Vejo meu ex-companheiro feliz com uma outra pessoa e isso aquece meu coração, pois o vejo vivendo, efetivamente, um novo momento. Quão injusto seria, com nós dois, se tivéssemos continuado? Quão nocivo seria com nossos filhos se continuássemos fingindo, para todos e para nós mesmos? Que exemplo daríamos a eles?
Prefiro pensar no quão acertada essa decisão foi e em todo o bem que ela tem feito (para os que realmente importam).
Felicidade não tem preço, ela acaba vindo de brinde com a liberdade. Esta última, sim, tem um preço alto e difícil de se pagar.
Pensando no futuro, espero que essa geração que estamos criando seja melhor que a nossa. Às vezes fica difícil de acreditar quando vemos o que vemos em todas as mídias, mas realmente creio na mudança. Ser resistência num mundo de intolerância não é fácil.
Acabei tendo uma rede de apoio de mulheres muito maravilhosa. Poucas pessoas, mulheres, que me acolheram no momento mais crítico da minha vida. Que me olharam no olho e disseram para contar com elas. Que me acolheram. Que me contaram suas histórias, tão parecidas (ou iguais) à minha. Que me emprestaram roupa, me deram comida, me pentearam, me abraçaram, me amaram. Sem julgamentos. Apenas amor.
À todas vocês, obrigada. Be, Má, Jeh, Cami, Gio, Nick, Pati, Cris, Ana, So, a vocês e todas as outras mulheres maravilhosas que me acolheram, gratidão.
Se me perguntam hoje como estou respondo, sem hesitação, muito feliz. Como não estive em muito tempo. Não tenho casa, nem carro, um punhado de roupas, batalhando grana pra conseguir pagar um lugarzinho pra morar, mas, acima de tudo, feliz.
Coincidência? Destino? Karma? Escolha, eu diria. Escolhi "o que faz meu coração vibrar, apesar de todas as consequências".
Estou viva.
Sou minha.
E isso me basta.